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Amazônia: a responsabilidade das empresas com a preservação do bioma 

Mais empresas passaram a adotar métodos sustentáveis pensando no equilíbrio entre geração de lucro e a preservação do meio ambiente


Publicado em 4 de Novembro de 2019

FOTO: REPRODUÇÃO

A preocupação com o meio ambiente tem levado cada vez mais empreendedores a buscarem soluções sustentáveis para seus negócios. Por um longo tempo, empresas aumentaram o ritmo de produção e diminuíram a preocupação com o meio ambiente isso causou graves danos que atingem diretamente a fauna e a flora.  

Embora ainda seja um problema constante, os prejuízos causados pela produção industrial estão sendo contidos de maneira moderada por empresas que estão plantando a semente da sustentabilidade e estabelecendo métodos para não gerar mais estragos ao ecossistema.

Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, comitê criado pelas Nações Unidas (ONU), o desenvolvimento sustentável é a evolução, da tecnologia, do mercado e da indústria. Ele é capaz de suprir as necessidades da atual e das futuras gerações, harmonizando o interesse econômico e a preservação ambiental. Por isso, é necessário alertar o consumidor sobre o malefício provocado por uma produção irregular, de empresas consagradas no mercado econômico. 

Por outro lado, é possível encontrar multinacionais e pequenos empreendimentos que adotam medidas de confecção da mercadoria que visam a preservação do meio ambiente e merecem destaque pela ação, que ajuda a sociedade e gera lucro, sem abusar de recursos que prejudicam a atmosfera terrestre.

A investigação liderada pela ONG Amazon Watch, em parceria com organizações brasileiras e europeias, apontou que grandes empresas como JBS, Bunge e Santander são cúmplices do desmatamento na Amazônia. O estudo investigou relações entre grupos autuados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), e grandes consumidores de commodities, produtos usados como matéria prima nos Estados Unidos e na Europa.

O objetivo foi ligar os pontos das cadeias produtivas com o intuito de alertar consumidores europeus e americanos, que respondem, respectivamente, por 18% e 11%, da exportação das commodities brasileiras, sobre a responsabilidade de cuidar e preservar a Amazônia.

Entre as multinacionais encontradas como compradoras de empresas que cometeram infrações, estão os maiores frigoríficos brasileiros, entre eles o grupo JBS, e Bunge e Cargill: os gigantes da produção de soja. Em nota, Bunge e Cargill negam que as atividades tenham relação com o desmatamento e contestam a autuação do Ibama, que segundo eles, são “infundadas”.

Já a JBS afirmou que monitora diariamente as fazendas fornecedoras de gado, via satélite. Além de cruzar dados com a lista de áreas embargadas pelo Ibama, com a lista suja do trabalho escravo do Ministério da Economia. A nota publicada pela JBS contradiz as evidências apontadas pelo relatório. No documento, há registros de compras de fazendas ilegais, sendo uma delas a Fazenda da AgroSB, autuada pelo Ibama, que concorreu ao título de “melhor lote de animais abatidos pela JBS”, em janeiro de 2017.

Embora as empresas tenham políticas de compra responsável e afirmam que não compactuam com o desmatamento na Amazônia, a falta de transparência torna o compromisso difícil de ser averiguado. Antes de chegar às prateleiras dos supermercados, os produtos feitos com a soja passam por diversos atores intermediários como fazendeiros, exportadores, processadores, criadores de gado e varejista. No caso da carne, o desafio é maior, já que o gado pode ser criado em áreas ilegais e em seguida transportado para fazendas regularizadas.

A Amazon Watch apontou, ainda, quais bancos e acionistas investiram em empresas que não garantem a origem de “livre de desmatamento” nos produtos. Entre bancos internacionais, o Banco Santander ficou em destaque. Ele publicou em nota que as empresas mencionadas no relatório teriam cumprido acordos firmados com o Ministério Público Federal (MPF), para “garantir a procedência dos animais adquiridos na região amazônica’’. Além disso, afirmou que usa critérios socioambientais para avaliar a carteira de clientes, mas não cita a relação como investidor com participações em emissão de dívidas e também como acionista de frigoríficos citados no relatório.

Desmatamento

O desmatamento na Amazônia tem aumentado desde 2012 e pode continuar crescendo, segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em comparação ao mês de julho de 2018 e 2019, essa ação ilegal cresceu cerca de 278%, de acordo com as análises do Inpe. Entre as principais causas estão a impunidade de crimes ambientais, atividade pecuária, estímulo à grilagem de terras públicas e a retomada de grandes obras.

Especialistas afirmam que o desmatamento da Amazônia é um dos principais empecilhos para atingir as metas climáticas globais. A engenheira florestal, Ana Vera, afirmou que as empresas são causadoras do desmatamento de forma desordenada. ’’Queimadas, práticas agrícolas ilegais, poluição do ar, do solo e da água, despejo irregular lançado inadequadamente em igarapés da cidade é um dos grandes problemas das empresas que contribuem para o desmatamento do meio ambiente’’, comentou.


Outro fator que acarreta o desmatamento são as queimadas, reforçou o engenheiro e consultor ambiental Tiago Araújo. O fogo é parte da estratégia de "limpeza" do solo que foi desmatado para ser usado na pecuária ou no plantio. É o chamado ciclo de desmatamento da Amazônia. “A preocupação com a Amazônia só entra em pauta quando acontecem grandes desastres ambientais. A busca pelo lucro acaba prejudicando toda a riqueza natural que temos”, destacou. 

No caminho oposto

Para implantar o desenvolvimento sustentável dentro de indústrias, é necessário focar na qualidade do produto ao invés da quantidade. Pensando nisso, essa edição do Olhar Amazônico listou empresas dentro da Amazônia, que estão se esforçando para criar um ambiente de produção menos agressivo à natureza.


Honda


A Honda é um exemplo de empresa que está ajudando a preservar a Amazônia e seus recursos naturais. A firma possui projetos voltados para eficiência energética, uso racional de água, reserva ambiental e agricultura.

Em 2014 substituiu a energia elétrica produzida com Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), pelo gás natural que abastece toda a fábrica da Moto Honda da Amazônia. A substituição fez com que a empresa deixasse de emitir mais de 2.095 toneladas de CO2 por ano, um dos compostos químicos responsáveis pelo aumento da temperatura no Planeta.

Outro problema agravante na Amazônia é a poluição dos rios, onde se concentra a maior quantidade de água doce do Brasil. Pensando nisso, a empresa desenvolveu uma Estações de Tratamento de Água (ETA), onde o recurso mineral utilizado passa por um processo bioquímico de purificação. A estação da unidade de Manaus é considerada a mais moderna do grupo Honda na América do Sul. 

A empresa mantém uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que ocupa mais de 16 hectares próximo ao igarapé do Mindu, na cidade de Manaus. A reserva abriga espécies de árvores e animais, como o macaco sauim, símbolo da região. Outra iniciativa é o projeto agrícola, localizado no município de Rio Preto da Eva, a 78 km de Manaus. Com uma área de 160 hectares de plantio, são cultivadas várias espécies de árvores frutíferas e outras ameaçadas de extinção, como mogno, pau-rosa, copaíba e andiroba. Outra grande extensão de hectares é mantida como reserva legal.

Ambev 

Ainda na capital amazonense é possível encontrar outra iniciativa. A Cervejaria Ambev é uma empresa brasileira produtora de bebidas com sede em São Paulo, mas também atua em outros estados brasileiros e em países da América do Sul. 

 A cultura do eco-friendly foi adotada pela empresa, que pratica a reutilização de suas embalagens de PET e latinhas. A embalagem do Guaraná Antártica é considerada a primeira PET 100% reciclada do Brasil. A matéria prima da bebida é cultivada e extraída do município de Maués, a 350 km de Manaus, capital do Amazonas. Maués, localizada no coração da Amazônia, é responsável pelo cultivo do fruto do guaraná, que abastece a produção da Ambev e de outras empresas de refrigerantes.


Todos os anos no dia do Guaraná, a empresa oferece consultoria, treinamento e assistência aos agricultores, incentivando o cultivo consciente do fruto. Ao longo do ano também são distribuídas mais de 60 mil mudas da espécie, o que aumenta a produtividade e incentiva uma nova via de renda aos moradores da região.

Startups

Além das grandes empresas, é possível encontrar exemplos de startups voltadas para a causa de preservação. A Terras Apps Solution é uma startup brasileira, nascida em Belém-PA, na região amazônica. O empreendimento incentiva os novos negócios a pensarem mais no desenvolvimento sustentável, já que o app ajuda no reconhecimento das reservas legais, áreas de proteção ambiental e outros elementos que compõem as leis ambientais do Brasil.

O objetivo é permitir, através de aplicativo, a apresentação e análise de propostas de crédito rural a serem submetidas aos bancos. Uma das soluções do app é reunir dados oficiais e produzir relatórios de acordo com a legislação ambiental e normas dos bancos, para que haja a compatibilidade de interesses das partes em relação ao aspecto ambiental e consequentemente, a aprovação de crédito.

Madtech

A Madtech é pioneira na região amazônica no desenvolvimento da madeira biossintética e se dedica às tecnologias limpas, sua proposta é reduzir os impactos ambientais causados pelo acúmulo de resíduos sólidos nas cidades e do desmatamento nas florestas. 

“A partir do momento que se tem um material sintético que tem as mesmas características da madeira e é proveniente de processos sustentáveis [...] isso serve para diminuir a poluição plástica, poluição agroindustrial e o desmatamento, além do impacto socioambiental, por adquirirmos esse material de catadores, pagando um valor justo”, explicou Melquisedec Negrão, cofundador da Madtech.

 
A ideia é que com a utilização dessa madeira biossintética no mercado de móveis e decoração, seja possível diminuir a derrubada de árvores na região, tanto legal quanto ilegal e se tenha uma solução economicamente competitiva e ecologicamente viável na Amazônia.

O cofundador da Madtech, Melquisedec Negrão, contou um pouco sobre a fundação da startup no nosso podcast. Ouça agora.



A Terceira Via Amazônica 

Pensando na preservação ambiental e no desenvolvimento econômico, o engenheiro eletrônico e climatologista, Carlos Nobre, estudou uma forma de alternativa para o desenvolvimento da região e a introdução da bioeconomia. A ideia, do também pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançado da Universidade de São Paulo, é chamada de ‘“Terceira Via’’, que tem ideias baseadas na biodiversidade amazônica para a introdução no comércio em geral.

A finalidade da terceira via seria manter a floresta em pé, e iniciar uma exploração sustentável através de ferramentas do século 21, da 4ª Revolução Industrial. Para o cientista, o conhecimento dos ativos biológicos, seriam a principal ferramenta da terceira via. “Manter a floresta em pé, ter ciência e tecnologia e capacitar as populações para participarem desse novo ciclo econômico: esse é o nosso projeto na Terceira Via Amazônica”, destaca em entrevista para o site da Unicamp.

Na construção dessa nova via, baseada na 4° Revolução Industrial, inclui pontos estratégicos para exploração de recursos biológicos, comparado ao Vale do Silício, na Califórnia. Em entrevista ao site “Amazônia Socioambiental”, o pesquisador citou a exploração do açaí, do babaçu, do cupuaçu. Porém, mais que isso, de estudar, por exemplo, a rã Tungara, que cria uma espuma de longa duração capaz de absorver CO2. 

Outro exemplo é do jambu, planta com propriedades anestésicas que está sendo estudada para uso em pastas de dentes ou em produtos anti inflamatórios. “É aprender com as soluções que o ecossistema da floresta desenvolveu há milhões de anos”, disse Nobre.

A primeira via amazônica busca combinar uma forma de resguardar as reservas extrativistas, áreas indígenas e os ecossistemas em unidades de formação. No entanto, a intensificação na agropecuária cresceu e a forma encontrada foi a criação de um modelo de exploração intensivo de recursos naturais, aproveitando além da área de desmatamento, o uso de mineração e hidroeletricidade, denominada de segunda via. As duas vias entraram em conflito, fazendo com que os pesquisadores busquem soluções para que elas se encaixem e sejam, ao mesmo tempo, produtivas e sustentáveis.
Foto: Antoninho Perri 
Carlos Nobre criou o conceito de terceira via, que tem como objetivo conciliar as duas primeiras vias, porém com ênfase não só nos recursos naturais já explorados, mas também na tecnologia e biodiversidade. “Esse modelo de ocupação geopolítica representava um enorme receio de que a Amazônia fosse objeto de cobiça internacional, principalmente dos Estados Unidos. Eles não enxergavam os povos indígenas e os amazônicos como garantidores da soberania brasileira. Esse é o modelo que vigora até hoje – o de utilização intensiva de recursos minerais e substituição da floresta por gado e soja”, afirmou o cientista.  
Desenvolver e criar um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e a exploração sustentável, está sendo uma das prioridades de algumas empresas, ongs e institutos que buscam criar essa harmonia. A terceira via Amazônica, surge como alternativa para os negócios. A marca de sustentabilidade para uma empresa traz um diferencial em uma época que tanto se fala em preservação e acaba se destacando da concorrência.
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