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O lado bom da vida

Crônica de Thaiana Andrade
Estudante do 7º período do curso de Jornalismo da Faculdade Martha Falcão
Publicado em 03 de junho de 2020
Foto: Reprodução/Internet 
Será que existem regras para ser feliz? Onde encontramos a felicidade? Onde está o lado bom da vida? Pra mim, na sua maioria, está nas pequenas coisas: no céu azul brilhando com a luz do sol, no cantar dos pássaros em voo, no observar das pessoas andando e simplesmente vivendo, sendo elas mesmas. Comendo aquele super brigadeiro de panela ouvindo minha banda favorita ou deitada assistindo a Friends. Pode ser também naqueles momentos leves de risada e conversa boa com as pessoas que amo: amigos, família. Lendo um livro, talvez. Uma tarde lanchando e conversando com minha avó. Ou até mesmo naquele passeio de carro com o vento batendo no meu rosto. 

Pode estar também na rotina que eu tinha antes da pandemia. Por exemplo, ao acordar de manhã e tomar um bom e rápido café com meus pais. Às vezes não falávamos muito, mas só a companhia era o suficiente. Logo depois, eu já saia para ir ao trabalho. Da janela do carro, admirava a imensidão e beleza do céu e isso me acalmava. Olhava para as nuvens ou para aquele azulão lá em cima, me trazia paz. Sair de casa e pegar o calor do sol na pele e o vento agradável no rosto me fazia tão bem, e eu só descobri isso agora. Era assim que começavam os meus dias antes da pandemia, essa rotina que eu descobri que amava.
O caminho para o trabalho era sempre o mesmo: trânsito suave, mas corrido, muitos jovens e adultos atravessando a faixa de pedestre em frente à Fametro da Chapada para ir para faculdade, trabalho ou para pegar o próximo ônibus. Estes seguiam lotados, e as obras no meio do caminho me faziam analisar todos os dias sua evolução, se tinha algo diferente. Tinha também um guarda de trânsito que sempre estava ali, dia a dia, tanto que eu já sentia que o conhecia. Era um senhor de cabelos brancos, gordinho, aparentemente simpático e fofo. Eu o observava todos os dias, às vezes mais com a via mais calma, outras vezes com o trânsito mais agitado na Constantino Nery. 

O vai e vem de pessoas era uma constante, assim como o calor, bastante calor. O engraçado é pensar que coisas como o calor e o trânsito, que muitas vezes me irritava, até porque nem sempre tudo é 100% bom, hoje fazem falta. Que vontade de sair e pegar um trânsito!  

A caminho do trabalho encontrei mais um dos lados bons da vida. Atravessando a fronteira da Chapada rumo ao Centro, onde fica meu trabalho, eu via uma realidade bastante diferente da janela: enquanto no Dom Pedro o movimento era dominado por veículos (motos, ônibus, carros e mais carros), quase nenhuma pessoa a pé, o centro era diferente: sim, tinha muitos carros, incontáveis ônibus, mas também tinha muitas pessoas na rua, sejam elas caminhando, trabalhando, indo ao médico ou a caminho da escola... Uma loucura de pessoas!

Era pessoas diferentes entre si, tinha de tudo um pouco. Cada um da sua maneira, com vestimentas distintas. De um lado, um vendedor ambulante ou uma freira; do outro, um trabalhador fardado, estudantes, turistas, uma mistura. Mistura bonita. Costumava admirar e até achar engraçado os turistas passeando pelo Centro, a maioria de mochila e câmeras enormes na mão, alguns de calça e blusa de manga, outros mais relaxados. Era possível diferenciar os aventureiros e os mais recatados. Era bacana de ver. Eu apreciava todas as manhãs o Teatro Amazonas e o Largo de São Sebastião - já tinha esquecido o quanto eram encantadores! - entrecortados pelo barulho da rádio, sempre com notícias pela manhã, e a conversa agradável com meu pai, que é quem me dá carona até o trabalho. Assim, meu dia de trabalho começava.

Eu saia do carro e entrava no prédio onde trabalhava, e assim ficava até às três da tarde. Ao final do expediente, saia e voltava para casa pelo mesmo caminho, de carona, vendo todos esses detalhes, mas, ao menos tempo, talvez não os valorizando tanto como hoje. 

Ensolarado ou nublado, era sempre bonito de olhar o céu nas mais diversas perspectivas ali, dava uma calma ao coração. Todos os dias eu o admirava; pela manhã, ao chegar, e pela tarde, ao sair do trabalho. Hoje, só saio de casa para ir ao mercado e olhe lá. Agora aprecio o céu da janela do quarto, através dos losangos das telas pretas de proteção no apartamento. Aquele azul continua lindo, mas pra mim, um pouco mais limitado. Só o enxergo de um mesmo ângulo dia após dia, mas não quer dizer que isso seja ruim. É diferente. Talvez tenha o seu lado bom também.

No fim das contas, é bom estar com a família e aproveitar dias caseiros com eles. Me lembra da infância. Claro que a preocupação existe, mas pode existir algo positivo em tudo, eu acredito: um programa de tv novo assistido com a família reunida na sala, um almoço com todos reunidos, um papo para relembrar os tempos antigos, jogos no fim de semana, uma live daquele cantor ou banda que toca um som legal. 

É fato que o estresse vem e vai, todos os dias são assim, mas ter fé em dias melhores é o que me faz continuar otimista. Talvez nem todos estejam tendo dias bons, mas o que seriam dias bons, afinal? Acredito que a felicidade está nas coisas simples, basta abrirmos o coração. Não vou dizer que é fácil para todos, mas a felicidade pode estar no seu suco ou na sua comida preferida, em ver o movimento da rua, ou em descobrir um hobby novo. Pode estar na internet, em vídeos do Youtube daquele tema interessante ou bobo, ou naquela nova atividade que você nunca conseguiu desenvolver por conta da correria.

Sempre me vem à cabeça: como será a vida depois que tudo isso passar? Será que o guarda de transito estará lá no mesmo lugar de sempre? Será se o movimento nas ruas será o mesmo? Será se os turistas continuarão contemplando as belezas manauaras? Não sei, só sei que não vejo a hora de conhecer o novo normal que vem por aí. Quero voltar a admirar as pessoas vivendo nas ruas, sendo elas mesmas – por enquanto, só é possível de máscara no rosto e álcool em gel na bolsa, e só quando as saídas mandatórias ocorrem –, fazendo coisas cotidianas, rindo, falando com alguém no WhatsApp enquanto caminha ou espera o ônibus. É sempre interessante observa-las ao natural.

Por aqui, a tal correria continua. Costumes antigos são banidos ou adaptados, e arrumar tempo para uma atividade nova não é tão simples assim. Mas é melhor acreditar do que enlouquecer. Eu tento, eu acredito, e sim, enlouqueço às vezes, mas almejo dias melhores, e eles virão.
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