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Manauaras na Paulista

Crônica de Gustavo Santos
Estudante do 7º período do curso de Jornalismo da Faculdade Martha Falcão
Publicado em 11 de junho de 2020
Foto: Lucas Castro
Depois de uma típica noitada, amanhecemos empolgados, ou melhor, eu amanheci empolgado. Finalmente chegou o dia de ir conhecer a tal da avenida Paulista. O motivo da minha empolgação era que, diferente das outras vezes, eu iria levar minhas amigas juntas para conhecer também o emblemático ponto turistíco – porque era isso que éramos ali, turistas. O dia estava ensolarado, porém frio, já que era inverno. Faziam 13ºC lá fora. Para nós, era o dia perfeito para andar pela avenida. Naquele dia decidimos que iríamos fazer diferente, iríamos nos aventurar indo de metrô. Detalhe, três manauaras, nenhum acostumado a andar de metrô e muito menos de transporte público. 

Nos preparamos, checamos todo o trajeto e as devidas linhas que iríamos pegar. Estávamos certos de que iríamos precisar sair de Tatuapé (linha vermelha) até República (linha amarela), e de lá ir para Consolação (linha verde), que era o nosso ponto de chegada. Parecia tudo decidido, a linha vermelha era bem próximo do nosso apartamento, questão de duas quadras andando. Chegando na estação, compramos nosso bilhete, o que foi o mais fácil do trajeto. Passamos a catraca e nos deparamos com a plataforma de mão dupla. Olhamos um para o outro, era nítido na nossa cara o desespero por não saber ao certo qual a direção ir, enquanto os paulistas sabiam muito bem seus trajetos, e iam rápido! 

Passou uma senhora, bem carinhosa, estranhamente educada, estranho porque paulista tem a fama de ser frio e apressado, e essa senhora não era. Vendo a nossa cara de perdidos, perguntou: meninos vocês precisam de ajuda para ir a algum lugar? As garotas me olharam e eu respondi: precisamos chegar na Paulista, mas não sabemos em qual direção é. A senhora, pode nos ajudar? Então ela, com toda calma, indicou o caminho. O problema foi que ela ensinou um caminho totalmente diferente daquele que tínhamos traçado. Ela tinha nos indicado uma rota bem maior, mas não questionamos e seguimos o caminho. Fomos rindo o caminho inteiro, porque parecia ser algo fácil de fazer: era só entrar na linha vermelha e seguir o plano, mas bastou uma plataforma de mão dupla para fazer a gente pensar duas vezes. 

Enfim, depois de todo esse sufoco, chegamos na tão famosa avenida. Ficamos admirados com o tanto de prédios e o quão altos eles eram. Notamos também um fluxo muito grande pessoas e, o mais incrível, o quão diferente elas eram. E antes que achem estranho a gente se admirar com prédios enormes e o fluxo grande de pessoas, quero deixar claro que Manaus é bem diferente; é claro que aqui também temos prédios e avenidas movimentadas, mas o que nos chocava lá era a arquitetura e a diversidade de coisas que podíamos encontrar em um lugar só.

Em Manaus também temos uma avenida em que a história se junta com a atualidade; se chama Avenida Sete de Setembro. Lá podemos encontrar as mesmas coisas: museus, bancos, lojas de utilidades, lojas de roupa, lojas de importados e franquias de lanches. Porém, a única diferença é que é menor que a paulista, e os prédios são bem mais discretos e de aparência menos moderna. Mas tem seu valor e carga histórica. 

Voltando para a Avenida Paulista, escolhemos o museu Itaú Cultural, ele fica bem na esquina em frente ao mirante do Sesc. Lá no museu encontramos tanta coisa, tanta informação, com figuras e objetos que antes só tínhamos visto em livros de história. Outra coisa curiosa que nos impressionou bastante foi poder conhecer detalhes da fauna e flora da nossa floresta amazônica numa exposição. Era impressionante o tanto de árvores e pássaros que era apresentados ali em forma de imagem. 

O museu tinha oito andares. Confirme íamos subindo, mudava o ano e a época que a história era contada. Encontramos lá desde o descobrimento do Brasil até os dias atuais e achamos fascinante. Olhávamos a nossa história de outra maneira, era nítido nos nossos olhos brilhantes e atentos a todos os detalhes que eram mostrados o quanto estávamos admirados com aquela avalanche de informações que estávamos recebendo. 

Outro detalhe que pudemos perceber ali, fazendo aquele passeio, é que o paulistano é um pouco frio, mas não é porque ele quer ser assim. Acredito que seja a correria e o volume de tarefas que lhe são designadas por dia que lhes tornam assim. Muitas vezes, eles não conseguem nem reparar o que acontece ao redor por estarem muito ocupados, ligados só ali nos seus trabalhos. Essa postura não deixa respiro para olhar nada no entorno, olhar para si, olhar para o outro que vai passando ao lado. Não vivem um tempo humanizado, no qual podem apenas olhar as coisas, se demorar nelas, se deixar estar reparando de fato em algo. 

Percebo, no meio dessas lembranças, que o que mais me marcou nesse passeio é que precisamos nos atentar ao próximo. Por mais que estejamos ocupados com nossos afazeres diários, é necessário que tenhamos essa atenção ao entorno e ao outro. Se não fosse aquela senhora lá na linha vermelha nos ajudar, não chegaríamos à Paulista. Há sempre alguém precisando de ajuda; o nosso trabalho é fazer o mínimo e ajudar. Por mais inevitável que seja, sigamos ainda nos permitindo, apesar de toda dureza da vida, fertilizar amor, provando que somos mais que esse tempo feito mercadoria. Somos tempo humano, somos além sistema capitalista. 
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