Estamos todos correndo sem parar, tentando dar conta de uma agenda entupida de afazeres. De repente, parece que afundamos o pé em uma espécie de cimento e não podemos mais sair de casa. No caso, o cimento dessa metáfora é o novo coronavírus. Seria engraçado se não fosse trágico o fato de que a doença afetou até mesmo aqueles que supostamente se encontram numa posição de privilégio, como é caso dos influenciadores digitais. Afinal, o trabalho deles já não era esse? Ficar em casa, produzindo conteúdo?
Acontece que o tsunami que invadiu as casas de quem trabalha fora também alcançou quem exerce sua profissão em regime de home office a maior parte do tempo. Para eles, nunca se teve tanta certeza de que #NãoTáFácilPraNinguém. Mas a influenciadora Karen Mabel, com 35,5 mil seguidores no Instagram, tenta nadar quando o barco parece meio furado: “As condições mudaram. Me questionei muito sobre a profissão no início de tudo, mas estou explorando cantinhos da casa que estavam escondidos e aproveitando a oportunidade, experimentando novos aplicativos, novos formatos, assuntos, além de explorar minha criatividade”.
Antes do vírus modificar toda a rotina de trabalho, a maioria dos “publi posts”, que são as postagens pagas feitas em seu perfil, eram feitos fora de casa. Os locais são preparados, têm seu próprio ambiente, sua identidade, logo, a produção é mais prática dessa forma. As indicações incluíam a ida das pessoas até o estabelecimento e o máximo de esclarecimentos necessários eram os endereços e custos de cada serviço oferecido pelo parceiro. Nesse momento, é preciso ensinar as pessoas como utilizarem os meios tecnológicos, além de garantir uma experiência saudável e segura, já que o mais importante é não gerar nenhum tipo de contaminação. Além do mais, vários contratos foram interrompidos, sem previsão de volta, tal como a doença tem respondido sobre a normalidade do dia-a-dia.
É possível que a vida dos influencers pareça bem cômoda, mas imagina só: você está sentado na sala da sua casa, um lugar que deveria ser reflexo de paz e calmaria (além de intimidade) e a lembrança de uma demanda chega a sua mente. Nesse mesmo lugar, você tira o computador para trabalhar e a energia do lugar muda. E não basta. É preciso fazer fotos. Como criar um cenário? E a luz? Como tirar as pessoas de dentro de casa para o ambiente estar pronto para um vídeo? Exige tempo, esforço, e pode ser bem mais desgastante do que parece.
Essa mudança na maneira de produzir seus conteúdos não é uma realidade única de Karen. Com 73,1 mil seguidores, Diego Araújo enfrenta as mesmas dúvidas na hora de garantir qualidade e diversidade em seus conteúdos. Para ele, o novo aplicativo Tiktok é a grande solução: “alguns clientes desfizeram acordos, outros reapareceram. Estamos adaptando tudo para nova realidade e a procura realmente está bem maior do que antes, já que o delivery tem sido muito mais procurado que antes”. Com isso, Diego quer dizer que as parcerias com as marcas com as quais dialogava (por dialogar, entenda receber, usar e divulgar seus produtos e serviços) mudou, e não necessariamente para pior. Ou seja, readaptar é a nova ordem, como ilustra a tão famosa hashtag: “AGenteQueLute”. O ponto positivo de tudo é que o bom humor facilita muito cada uma das postagens, e como o público está mais em casa, o consumo do conteúdo midiático cresceu, e muito.
Abrir as portas das nossas casas (virtualmente, claro) talvez não seja o efeito mais tranquilo da quarentena. E com toda certeza, não é a paz que esperamos para manter uma saúde mental. A nova realidade pode ter modificado algumas rotinas mais do que outras, mas o fato é: ninguém saiu ileso. Outro ponto a ser observado é a economia, que se movimenta aos passos da adaptação do mercado. O consumo mudou, mas não findou. Diversos estudos comprovam, inclusive, que as empresas têm investido não só nas novas formas de venda, mas no relacionamento com o consumidor, que precisa ser bem atendido para uma futura fidelização. Nesse aspecto, os influenciadores estão em evidência, afinal, é o mais possível de uma experiência próxima e real. O investimento de uma empresa em um perfil tem que ser bem pensado, considerando público, mensagem que o influenciador passa, tipo de interação com os seguidores, entre outras características e detalhes que determinam o objetivo final: vendas.
Do outro lado da tela do celular
Sempre que alguém precisa de algo, busca especificamente o perfil que sabe que encontrará o produto que deseja. Leia Damasceno é professora, mãe da Rebeca e do Ruben Gabriel e casada com Luciano. Ela tem se adaptado a situação com a ajuda das redes. Suas aulas têm acontecido dentro de casa e, para atender bem as necessidades, precisou adquirir equipamentos tecnológicos que a auxiliassem no processo. Para realizar a compra, a mesma fez buscas em diversos perfis da própria cidade e conseguiu decidir pelo local onde faria sua compra. “Eu sigo todas essas blogueirinhas de Manaus e gosto delas porque dão dicas boas. Algumas não estão no meu orçamento, então eu só vejo as novidades mesmo. Outras, eu acredito mesmo no que dizem e sei que podem me ajudar a entender como algumas lojas funcionam. Eu também não era muito boa com compras online, mas consigo ver como fazer em alguns stories e acabei conseguindo entrar nesse mundo no final”, explica.
E mais uma vez o marketing de experiência dá certo. Essa tem sido a nova onda surfada pelos comerciantes. Como dizemos nas redes sociais: “ElaFazAPrópriaHistória”. Além disso, esse novo mundo também pode ser confortável, desde que haja organização. Trabalhar de casa é uma realidade positiva para alguns e negativa para outros, mas a realidade é dura e o que resta é adaptação.