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Exercitar para não enlouquecer

Academias fechadas, treinos em casa, personal com exercícios via videochamada. A vida dos adeptos de atividades físicas no isolamento social. 
Reportagem de Katarinne Silva e Indra Naira Miranda 
Estudantes do 7º período do curso de Jornalismo da Faculdade Martha Falcão
Publicado em 17 de junho de 2020
Foto: Reprodução _Freepik
A Covid-19 afeta milhares de pessoas ao redor do mundo todo, e viver em meio a uma pandemia é desesperador, pois ninguém sabe se aguenta ou não até ter que passar por isso. Algumas vidas foram levadas para sempre e outras precisaram mudar de forma drástica. Com isso, o toque foi suspenso por tempo indeterminado, assim como aglomerações e qualquer outro tipo de contato físico que possa transmitir o vírus. Portanto, lojas foram fechadas, aulas suspensas e tudo o que se entendia como comércio não essencial precisou fechar as portas por um longo período. Dentre os “não essenciais” estão as academias. Sim, logo elas, que faziam parte da rotina de muitos brasileiros, precisou dar um tempo para que a saúde física fosse preservada.

Apesar disso, há aquelas pessoas que não conseguem ficar paradas, simplesmente precisam exercitar o corpo porque, para elas, é também uma forma de manter um pouco de sua rotina de antes. Fazendo exercícios em casa, a dona Zuleide Silva já é idosa, mas com muita disposição para a vida. Ela tenta manter no seu dia a dia de isolamento suas atividades físicas pelos menos duas ou três vezes por semana. Antes acostumada a praticar hidroginástica e dança com seus amigos da terceira idade, hoje ela faz exercícios com objetos que possui em casa como, por exemplo, uma cadeira que a auxilia nos agachamentos, fazendo cada movimento de forma calma e segura com a ajuda de sua fisioterapeuta pelo celular. 

Cultivar os velhos hábitos de antes da quarentena, no início, não foram tão fáceis. Afinal, ser idoso durante a pandemia é um risco. O isolamento total manteve Zuleide longe de seus amigos, sua igreja e sua irmã mais amada, e com isso, a vida social simplesmente parou. Logo, sua saúde psicológica foi afetada de forma brusca também. 

A doença levou seu irmão e isso tornou as coisas mais difíceis. Foram dias tomando remédios para conseguir dormir, além de adoecer de uma forte gripe que lhe causou desespero, a ponto de pensar que fosse Covid-19. Porém, Zuleide conseguiu aos poucos recuperar-se e recebeu a notícia de que receberia aulas on-line de sua professora da associação de idosos que frequenta. Sua saúde mental estava melhorando e, aos poucos, voltando à sua normalidade graças a sua dedicação, esforço e, claro, o apoio de sua família.


Viciado em crossfit

Um amante de exercícios pesados e de dietas rigorosas, Lucas Gabriel Souza precisou adaptar-se de várias formas para tentar manter grande parte de sua desejada forma física, bem musculosa. Para ele, o crossfit nunca foi fácil e é isso o que o deixa apaixonado pela modalidade, um tanto diferente, de exercícios. Para ele não foi tão difícil a adaptação, apesar das limitações de espaço e equipamentos.

Todas as manhãs Lucas começa a comer suas batatas doces cozidas. Elas vem com o mínimo de manteiga possível, o que, para ele, é o que dá gosto ao café da manhã, ou poderia ser chá da manhã, porque ele não toma a bebida café no início do seu dia. Após fazer o Home Office, Lucas começa a prática de aquecimentos usando seu próprio peso corporal, o que já era costume ser feito na academia que frequentava, para que não haja problemas nas próximas etapas. Nesse momento, tomar cuidados para evitar lesões é um principal requisito, além de controlar a ansiedade, que é fundamental para que Estevan possa se concentrar, já que não vale a pena exagerar nos treinos para se desestressar e acabar sofrendo com isso. Por isso, o acompanhamento de seu treinador e suas dicas são fundamentais.  

Apesar de sentir falta do Box (modo que a academia é chamada pelos praticantes da modalidade), Lucas diz que fazer exercícios em casa o deixa animado, pois incentiva sua família a praticar também, principalmente sua irmã, que começou a alongar-se diariamente durante a quarentena. Quem sabe, assim, possa levar isso para quando o isolamento finalmente acabar.

Mesmo com tanta dedicação no lar, para Lucas o contato físico com seus amigos, seu treinador e poder sair de casa para fazer o que gosta ainda é a melhor opção. Cumprimentar as pessoas e poder conversar continua sendo tentador e insubstituível. Talvez seja esse uma dos maiores desafios a se enfrentar durante a pandemia, a interrupção abrupta de convivência e compartilhamento de momentos com pessoas queridas que, mais do que nunca, são necessárias.

Em Manaus existem cerca de 420 empresas prestadoras de atividades físicas. Tal como outras pelo país, elas foram incluídas pelo Governo Federal como umas das atividades essenciais na pandemia, desde que sigam as determinações sanitárias do Ministério da Saúde para funcionamento. Porém, o decreto do Presidente Jair Bolsonaro, que liberou as academias em 11 de maio em edição extra do “Diário Oficial da União”, não convenceu. Governadores de cerca de 17 estados foram contra a medida, dentre eles, o do Amazonas, o governador Wilson Lima. Este foi contra a inclusão das atividades de salões de beleza, barbearia e academias de esportes na lista de serviços essenciais na ocasião. Mas, devido à grande pressão para a retomada do comércio, no dia 1 de junho começou a reabertura gradativa e, quem sabe, elas voltem também. Em seu 3º ciclo, as academias estarão liberadas para funcionamento a partir de 29 de junho, caso os números da Covid-19 não façam com que o plano seja modificado.

Com isso, muitos tiveram que se reinventar para manter tanto a saúde física, quanto a mental, mas e quem vive de treinar pessoas e dar aulas de exercícios físicos? Segundo o Conselho Regional de Educação Física da 8ª Região (CREF8/AM-AC-RO-RR), existem 6.336 profissionais de Educação Física registrados no sistema e que geram emprego e renda.

Para manter suas atuações profissionais, os personal trainers acabaram tendo as plataformas digitais como o principal auxílio no período de quarentena, usando a tecnologia ao seu favor. Os treinos então passaram a ser online com aulas remotas, videoconferência ou lives nas redes sociais, em obediência à ordem de isolamento do “fique em casa”. 

Esse é o caso da Michiko Yamamoto, de 22 anos. Ela é professora de educação física há cinco anos e atua profissionalmente há dois como personal na academia Spazio, localizada no Dom Pedro, Zona Centro-Oeste de Manaus. A educadora diz ter conseguido manter 90% dos seus alunos, incluindo idosos, com as suas aulas online. No começo foi bem complicado. Ela queria fazer os acompanhamentos nas residências, mas como estava bem no início do pico da doença, e ela tinha alunos que são do grupo de risco, resolveu esperar a poeira abaixar e foi quando teve a iniciativa de seguir as aulas com videochamadas. No começo os alunos não foram tão ativos e as aulas ficaram paradas uma semana, assim que começou a quarentena, mas logo entraram na rotina. E agora com a possível abertura das academias, seus planos são o de investir ainda mais nisso, comprar seus próprios equipamentos e fazer treinos particulares.

Para a sua surpresa, além dos alunos, Michiko passou a treinar várias pessoas da sua família no momento que ficou isolada em casa. Entre elas está o pai que é diabético, o marido e a cunhada, que não eram praticantes de atividades físicas. Para ela, o incentivo é fundamental, e que se não fosse pela família e por seus alunos que não ousaram desistir, as aulas não teriam progredido com bons resultados. Por isso, vai incentivar muito mais a maior quantidade de pessoas que puder.

Alguns dos especialistas que estudam os profissionais liberais nesse novo cenário, antes e pós pandemia, observam que as adaptações dos mesmos e suas rotinas em ambientes provisórios. Eles sugerem que a tendência é aumentar o número de clientes, o que está fazendo com que esses profissionais ressignifique sua maneira de fazer negócio. Por exemplo, os que já divulgavam seus trabalhos na internet estão apenas se engajando mais, mas os que não utilizavam esse meio para as suas vendas passaram a estudar e adaptar-se ao quatro. Ambos os grupos criam cada vez mais estratégias para atrair e fidelizar novos clientes. Com, isso a procura por consultorias e treinos virtuais tem aumentado, pois o mundo todo passou a consumir mais conteúdos digitais nestes últimos meses.

As pessoas que não tem condições de contratar os serviços de um personal como Michiko ão precisam necessariamente desanimar. Governos e prefeituras em diversas cidades lançaram, ao longo da pandemia, plataformas com aulas que foram disponibilizadas gratuitamente para estimular a população a se manter em forma e cuidar da saúde através de exercícios físicos. Em alguns, profissionais da área foram contratados para atenderem e orientarem os internautas em suas atividades.

Mas é claro que não adianta só se exercitar e malhar o dia inteiro; ter uma educação alimentar é fundamental. Logo, é preciso também comer bem, consumir frutas e verduras, e aliar essa alimentação saudável a uma rotina de exercícios para ajudar a manter a vitalidade mental e corporal. Cuidar do bem estar físico passou então ser algo ainda mais criterioso e essencial, para se viver bem e melhor. E, não podemos esquecer o acompanhamento adequado, com a supervisão de um especialista que é o correto e o melhor a se fazer.
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