A rotina das mães é bastante corrida. Geralmente, elas se desdobram entre família, trabalho, estudos e várias outras atividades, das mais corriqueiras àquelas através das quais buscam reconhecimento e melhorias para a vida. Para elas, que já são acostumadas a superar os desafios do dia a dia, lidar com o desconhecido como o novo Coronavírus tem sido mais um desses árduos obstáculos que chegaram em 2020, colocando o mundo de cabeça para baixo.
Como principal exigência para o combate ao vírus é a necessidade do isolamento social, o medo assola de forma diferenciada essas mulheres, que possuem carga horária dobrada, muitas sem um companheiro para dividir o peso das atividades diárias. Dentre as que planejaram se tornar mães de primeira viagem em 2020, a ansiedade natural da gravidez se amplifica com a preocupação relativa aos cuidados com o bebê.
Novas estratégias de trabalho
Para conseguir distrair os pequenos e prosseguir com o home office, vale de tudo um pouco para as mamães. “As reuniões por videoconferência normalmente ganham uma música infantil de fundo e um cenário totalmente alegre. Recorremos a todos os métodos que nos permitem sentar e escrever, mas mesmo assim, hora ou outra, é possível sentir aquela mãozinha puxando tua roupa, um chorinho meigo pedindo atenção”. É assim que Tayara Wanderley, gerente de mídias sociais da Prefeitura de Manaus, nos conta o que faz na sua nova rotina de trabalho, que está sendo dividida com Manuela, sua filha de um aninho.
É maravilhoso passar mais tempo com os filhos, acompanhar o crescimento, saber de perto o que acontece, estar no controle enquanto eles ainda são pequenos. Porém, esse idílio fica mais fácil em uma rotina normal, na qual existem dois universos distintos: o do trabalho e o da casa, cada um no seu quadrado. No primeiro, você se dedica a fazer o melhor de sua profissão. Ao final, retorna para o segundo e inicia seu segundo “turno”, agora o de mãe, dona de casa, e dona um pouco de si.
“O home office neste momento se apresenta como muito vantajoso. Primeiro, há a segurança em relação à saúde da minha família e principalmente da minha filha, porque sair de casa se tornou uma ameaça. Podemos contrair esse vírus que ninguém sabe como vai reagir. Segundo, mesmo não tendo toda uma estrutura profissional, é possível realizar meu trabalho e passar mais tempo com a bebê”, explica a mãe da Manuela.
Para muitas mulheres, ser mãe nunca vai deixar de ser um grande desafio, dentre cuidar de casa, das compras, dos filhos e, muitas vezes, do marido. Para coordenar tantos afazeres, é preciso ter muito controle sobre a situação, coisa que a pandemia nos tira em partes quando não temos como precisar, por exemplo, quando será realmente seguro colocar crianças pequenas numa creche. Foi para ajudar a entender esse cenário perante as mudanças em meio a pandemia do COVID-19 que a ONU Mulheres lançou o relatório '
Mulheres no centro da luta contra a crise Covid-19'.
Apesar de todo o trabalho, há mulheres que veem no isolamento social a chance de uma aproximação diferente com os filhos nesse período. É o caso da auxiliar de produção Ires Santos, mãe de uma adolescente. “Antes da pandemia, eu não podia ter a certeza de que ela estava bem, se tinha ido a aula, essas coisas. Por conta do trabalho, eu me privava muito de estar perto dela. Hoje posso ajudá-la e estar de olho, porque nessa idade, as coisas começam a ficar mais difíceis”, confessa.
Como muitas empresas aderiram ao recesso por conta da pandemia, as pessoas tiveram que ficar em casa, aproveitando o momento para se aproximar mais dos filhos. “Tenho pensado bastante nesse período, pois sempre cuidei da minha filha e do lar. Porém, mais de longe. Hoje a rotina é diferente, pois estou em isolamento por conta da pandemia, e isso me trouxe para mais perto da minha filha. Aqui eu tenho que a ajudar a fazer os trabalhos escolares. As aulas são feitas pela tv. Tudo isso é muito novo”, reflete.
Com a paralisação das escolas, foi necessária uma readaptação do ensino para que os alunos continuassem estudando. Entretanto, Ires afirma que, no momento, o mais importante é estar perto ajudando a filha. “Temos que estar perto dos filhos nesse momento, porque é uma coisa difícil o que estamos passando, acho que como mãe devo ajuda-la em tudo, principalmente nas aulas remotas, para que ela não tenha tanta dificuldade quando voltarmos ao normal”, afirma.
Porque mãe é mãe, os cuidados adicionais que a pandemia demanda para esse período fazem com que elas não percam a atenção com suas crias. Por isso elas saem apenas se necessário, com o uso de máscaras sendo obrigatório. Aglomeração? Nem pensar! E sempre que possível, deve-se usar álcool em gel. Por quê? Porque essas são algumas medidas que podem diminuir a proliferação do vírus. “Eu sempre tive muito cuidado com a minha filha e até mesmo meus sobrinhos, mas agora está redobrado, pois, não a deixo sair de casa para nada. Se sair, é usando máscara e álcool em gel. Quando chega em casa, tem que tomar logo um banho e eu lavo as roupas que ela usou imediatamente, para não ter problemas”, resume Ires.
A mudança na rotina dessas mães, assim como na vida de todos nós não foi uma escolha. Esse malabarismo, tanto profissional quanto dentro de casa, tona-se ainda mais desafiador para as mulheres que entram no rol das mamães de primeira viagem. “Não estava nos meus planos ser mãe, na verdade, nunca nem passou pela minha cabeça. Mas aconteceu, e eu não sou a favor do aborto, nada contra a quem seja adepto. O fato é que essa princesa mudou toda opinião que eu tinha formado na minha cabeça”, é o que fala Bruna Greco, jornalista, de 30 anos.
A gestação já é um tanto complicada, o misto de emoções que passam pela mulher devido à alteração dos hormônios. Há também os planos que fazem para a chegada tão esperada desse serzinho que fica guardado durante quase nove meses. Mas compra do enxoval, chá de bebê e o tão sonhado ensaio fotográfico, infelizmente, não mais podem ser realizados.
“Para nós, gestantes, as sensações como crise de ansiedade e baixa no sistema imunológico é mais delicado, e isso me deixava muito apreensiva, por ter que sair de casa pra ir as consultas sabendo que eu ia me expor a esse vírus que ninguém sabe praticamente nada sobre como deter”, confessa Jackeline Oliveira, que está no seu oitavo mês de gestação, e que com todo esse estresse da pandemia, ainda está na correria do para finalizar o Trabalho de Conclusão do Curso de jornalismo. Mesmo seguindo todo um protocolo, desde os cuidados do pré-natal às medidas de segurança orientadas para esse período de pandemia, ela ainda sente um certo receio.
É uma sensação compreensível, se pararmos para pensar na carga emocional que ela e inúmeras mães carregam no cotidiano. Dentre todos esses desafios que essas mulheres têm enfrentando diariamente, sejam elas mãe solo, mãe de primeira viagem ou uma mais experiente, cada uma com seus obstáculos a superar, a canseira dos cuidados por conta da pandemia as atingem de forma diferente, o que as fazem ainda mais merecedoras de atenção e carinho.