Entretenimento como rota de fuga ao tédio causado pelo distanciamento social
Jovens de 18 a 34 anos fazem parte da parcela de pessoas que está buscando serviços de streaming
durante período de pandemia do novo coronavírus.
Raifran Monteiro - redação portalfacon.com
Publicado em 02 de junho de 2020
A chegada do novo coronavírus (Covid-19) mudou a rotina das pessoas pelo mundo. Ruas vazias, lojas, escolas e cinemas fechados. Nesse momento, o aumento de fobias sociais e crescimento da ansiedade são comuns entre pessoas que cumprem as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto ao isolamento social. As consequências da pandemia têm gerado questionamento sobre o impacto do isolamento social na saúde mental da população e as formas que se têm encontrado para se entreter, visto que não podem sair de casa. Apesar de salas de cinema fechadas, shows adiados e museus vazios, outros meios, como a televisão, plataformas de streaming
e as lives tomam o protagonismo na busca por entretenimento durante a quarentena.
Neste cenário de monotonia, em que ficar em isolamento é a principal medida de prevenção ao contágio pelo vírus, é natural que as pessoas se sintam entediadas e recorram à televisão, à internet e outros meios para que a quarentena passe mais depressa. E, enquanto salas de cinema mundo afora estão fechando uma a uma, as listas de filmes e séries de serviços de streaming
e os canais fechados são o consolo e entretenimento nesses tempos difíceis.
Um levantamento da empresa norte-americana de pesquisa de mercado Nielsen indica que mesmo com o aumento do número de serviços de streaming, 93% dos entrevistados continuarão pagando pelos que possuem ou assinaram outros. O streaming
é particularmente popular entre jovens adultos. Entre as pessoas de 18 a 34 anos que participaram da pesquisa, 96% assinam um serviço de streaming, em comparação com 91% entre os consumidores de todas as idades.
Para a psicóloga Nicolly Medeiros, a indústria de entretenimento representa um espaço de informação, de troca e de fuga nesse momento. “Canais de televisão e plataformas digitais podem auxiliar nesse aspecto se propuserem ideias desviantes do foco da pandemia, o deslocamento de atenção reduz o impacto da angústia no momento. O mesmo meio que propaga pânico, pode propagar esperança, basta equilibrar o conteúdo fornecido”, comentou Medeiros.
A universitária Nayla Martins conta que tem buscado ter uma vida bem ativa, tem procurado por formas de se entreter e fugir de notícias que afetam a sua saúde mental. “Eu tenho procurado ter uma vida bem mais ativa, antes me deixava levar, ficava triste, com medo, mas agora tomei a decisão de ser mais produtiva. Hoje tenho buscado manter a minha rotina, trabalhando em casa, faculdade, praticando boa alimentação. Além de descobrir aplicativos que me ajudam na rotina, leitura, lives. Tenho consumido bastante a plataforma de filmes Netflix, tem me ajudado bastante como forma de entretenimento”, contou Martins.
Nayla mostra que é possível se entreter e se cuidar fisicamente mesmo em casa.
Foto: Acervo Pessoal / Nayla Martins
Já o profissional de Relações Públicas, Alberto Vieira relata que vem usado o tempo de isolamento não só para se entreter, mas como forma de adquirir conhecimento. Enfatiza que tomou a decisão de se desligar um pouco das notícias relacionadas à doença e focou mais em plataformas que possam preservar a saúde mental. “Decidir usar o meu tempo na quarentena como forma de agregar conhecimento, além de buscar me entreter. Me matriculando em cursos online, comprando livros, participando de lives sobre educação, lives de músicos, assistindo vídeos de culinária e esse tempo em que estamos em casa aprendi a cozinhar e posso dizer que vou sair dessa quarentena com uma habilidade nova, e isso tem me ajudado nesse tempo de confinamento”, relatou Alberto.
Ansiedade e estresse durante pandemia
Uma pesquisa da empresa de tecnologia Behup aponta que 60,3% dos brasileiros se sentem mais ansiosos em isolamento. O estudo analisou 1561 participantes e mostrou que 53,8% deles disseram estar mais estressados. A pesquisa do Nielsen Media Research
demonstra que o consumo de streaming
pode aumentar em mais de 60% durante esse período.
Sobre ansiedade e estresse durante a pandemia, Medeiros explica que quando a saúde mental está carente de atenção e fragilizada, os meios de entretenimento podem ajudar muito. “Ao invés de ficar focado nas inúmeras notícias sobre a pandemia, economia e conflitos políticos, é bom investir tempo e energia em outras atividades do presente, pode ser um tempo assistindo um filme, fazer uma atividade com a família, aprender uma receita nova, adquirir o hábito de leitura. O bom que esses entretenimentos são oportunidades de novas habilidades, há inúmeros cursos gratuitos ou com bons descontos no momento”, explicou a psicóloga.
Medeiros esclarece ainda que, para a preservação da saúde mental, é fundamental a criação de uma rotina, que envolva hora para dormir, acordar, tomar banho, alimentar-se adequadamente e trabalhar. E o horário do entretenimento deve estar incluso nessa rotina. “Seres humanos são seres de hábitos. Quanto mais realizarmos atividades comuns, mais bem estruturados estaremos, para saúde mental, física e social”, finalizou.