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A vida como ela era?

Crônica de Katarinne Repolho
Estudante do 7º período do curso de Jornalismo da Faculdade Martha Falcão
Publicado em 05 de junho de 2020
Foto: Pinterest
Eu sei que esse título é um tanto assustador para começar, realmente sei disso. Porque logo nos perguntamos: “Como assim, como ela ‘era’?”. Dá um desespero e penso logo naqueles filmes pós-apocalípticos, sabe? Na verdade, estou me sentindo mais como a velinha que narra o filme do Titanic: “Já faz 84 anos...”. 

Apesar disso, ainda tentamos seguir com esperança. Ou não? Parece que ela está se esgotando cada dia mais por conta da atual crise que nós brasileiros temos que enfrentar, além de estarmos nessa quarentena necessária e obrigatória. Na verdade, estamos em um nível desesperador. É como se realmente estivéssemos no Titanic, só que no exato momento do naufrágio. O nosso Iceberg é o Covid-19 e os violinistas são nossos queridos memes (não queira nem saber quem é o nosso capitão).

Sem perder ainda mais o foco, prefiro lembrar de como a vida realmente costumava ser. Não digo que era perfeita, na verdade já era bem ruim, só que agora nós estamos enfrentando essa pandemia de um coronavírus que adora um contatinho e seres humano que não respeitam o isolamento social. Porém, ainda lembro de quando podíamos trocar apertos de mãos sem precisar de uma auto descontaminação, ou ir comprar pão sem precisar imitar o Flash. 

Sair era bom! Pelo menos eu sinto um pouco de falta, até mesmo de pegar engarrafamento. E, falando nisso, lembrei dos ônibus lotados no Terminal 2 às seis a tarde, que era a pior hora do dia para pegar o busão e ir para a faculdade. A parte legal disso era que, durante o trajeto no meu querido 515 e no calor Manauara que deixa o caboco furioso e muito suado, tinham alguns alunos de Ensino Médio de uma escola específica, chamada IEA, a mesma em que eu estudara no passado.

Eu sentia uma nostalgia absurda quando os via dormindo nos assentos do ônibus, e lembrava de como era boa a época em que as minhas únicas preocupações eram: tentar não reprovar em química com o professor Claudenor; encadernar o trabalho bimestral da professora Leonor; lembrar de estudar pra prova de matemática que valia 5 mil pontos; ensaiar para um festival onde era preciso dançar pra ganhar pontos e não ser pega pela inspetora tentando entrar na escola com tênis colorido. 

Eu passava o dia todo naquela escola que fica no Centro de Manaus, e lá eu conheci os meus melhores amigos, somos amigos até hoje, quer dizer, de alguns, né? Estudar o dia todo cansava e eu dormia no ônibus indo para casa também. Mas tudo aquilo era ótimo. Sinto saudades dos meus professores, de ir em excursões para museus e teatros com a minha turma, de comprar uma farda nova porque queimava a minha com o ferro de passar (acontecia com bastante frequência) e de ir comprar salgados de uma distribuidora um tanto duvidosa que ficava próxima à escola. 

Sinto saudade de tudo aquilo. Crescer é difícil e ser um adulto com responsabilidades é muito chato, mas fazer o quê? Isso é inevitável. Mas como eu gostaria de poder voltar no tempo e aproveitar tudo aquilo com mais intensidade, evitar algumas briguinhas com amigas (quem nunca?), tudo isso sem me preocupar tanto com o futuro. Lembro que o “eu do Ensino Médio” queria ser advogada, morar com as amigas e finalmente ter a quantidade de animais que a minha mãe nunca me deixou adotar durante a minha infância. 

Pode parecer bobo, mas, qual é? Atire a primeira pedra quem nunca pensou algo parecido com isso. Eu nem cogitava que no fim das contas eu não me identificaria com o Direito e que iria gostar mesmo de Jornalismo, que para morar com amigas precisa ter um emprego fixo e o quão difícil é encontrar um, além de perceber que ter um animal de estimação é como ter um filho que é criança para sempre e, minha nossa, como é caro! 

E não podemos esquecer do bônus da vida adulta: passar por tantas crises existenciais, das mais complexas como: “Por que não consigo ser boa o suficiente em tudo o que faço?”, até as mais bobas, porém, importantes também, do tipo: “quantas palmas formam uma salva de palmas? Google pesquisar!”. Diante disso, podemos concluir que, definitivamente, a minha missão de ser rica e bem-sucedida aos 21 anos falhou.

Enfim, após todo esse caminho de recordações, quando eu finalmente chegava até o ponto de ônibus onde precisava descer para poder seguir rumo à faculdade, percebia que a vida é imprevisível mesmo (2020 que o diga!). Mas tudo bem, é como ela realmente é; simplesmente acontece. Ah, passando pela catraca da entrada da faculdade, não poderia deixar de me recordar de um detalhe ainda me traz um sorriso no rosto e me deixa um pouco mais motivada: “pelo menos eu não preciso mais ligar cadeias carbônicas!”. 
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