Sobre as palafitas: Os perigos enfrentados por moradores atingidos pela enchente
Moradores do beco João de Castro no bairro São Jorge relatam viver ameaçados por animais que adentram suas casas
Redação: Aderlan Guimarães
Foto: Aderlan Guimarães
A maior enchente já registrada nos últimos 119 anos, atinge em Manaus cerca de 5.990 famílias, um total de 23.960 pessoas, segundo dados da Defesa Civil. A subida do rio, que hoje(8) mede cerca de 30 metros, preocupa aqueles que vivem sob as mínimas condições humanas e que sofrem os impactos da natureza.
Se já não bastasse a pandemia da Covid-19, os moradores disputam espaço dentro de suas próprias residências com a água, com o lixo e animais peçonhentos que seguem o curso do rio e invadem as casas dos moradores.
A dona de casa, Jaqueline Bezerra, de 32 anos, moradora no beco João de Castro, bairro São Jorge, zona oeste da capital, é um exemplo de quem está tendo que dividir espaço dentro de casa com a água. Jaqueline vive com seus três filhos e com o esposo em uma casa improvisada e não tem para onde ir, e para não perder os móveis teve que construir marombas.
Entre cobras e jacarés
O rio já é um perigo para esses moradores e mais ainda são os animais que nele habita. Jaqueline fala que já chegou a ver cobras próximas a sua casa, sem falar dos jacarés que também nadam próximo a sua residência, e mostra a preocupação desses animais principalmente à segurança de seus filhos
“Sempre vemos jacaré aqui próximo. A vizinha matou uma cobra que entrou na casa dela. É realmente preocupante, e infelizmente temos que viver com isso todo ano. Meu filho já caiu da ponte e só não foi para o fundo porque se segurou nas tábuas``,
contou a moradora.
A prefeitura de Manaus criou o 'Auxílio Aluguel' para socorrer as famílias afetadas pela enchente. O valor do benefício é de R$ 300 que será pago em duas parcelas. Mas, segundo informações dos moradores, até o último dia 31, nem todos teriam recebido o benefício. A vizinha de Jaqueline, a auxiliar de serviços gerais, Keila Rodrigues, de 33 anos, além de passar pelos mesmos problemas, reclama da falta de assistência do poder público para com os moradores:
"As pessoas que realmente precisam de ajuda não ganham nenhum auxílio, e as pessoas que não precisam, ganham. Nós estamos aqui no alagado, e até agora não recebemos nada”.
Enquanto uns usam madeiras para fazer marombas, outros improvisam como podem. A dona de casa, Daniele, de 31 anos, fala que, durante os cinco anos que mora no local, em tempo de cheia, é sempre a mesma coisa. A casa fica alagada. Dessa vez teve que improvisar para que a água não atingisse seus móveis:
“Perdi meu guarda-roupa porque tive que fazê-lo como maromba, já que a prefeitura não deu madeiras para que isso fosse feito”.
Além dos animais, o lixo é outro problema enfrentado pelos moradores. A autônoma, Arlei, de 51 anos, é moradora no beco João de Castro há quatro anos. Ela, assim como os demais, têm que conviver com o forte cheiro que sai dos lixos que ficam sobre a superfície da água. Para que não tivesse sua casa invadida por esses lixos, o marido de Arlei colocou uma tábua na porta de casa, impedindo assim, que os lixos e até mesmo os animais invadam sua casa. Arlei conta o que faz para amenizar o cheiro nada agradável imposto pelo lixo:
"usamos água sanitária para tentar amenizar o odor. Todos dias passo quase 1 litro de água sanitária em toda minha casa, quando chove a situação é bem pior”.
As famílias dessa área passam diariamente por problemas comuns. A grande maioria perde algum móvel e aproveitam para fazer as marombas, uma ou outra se depara com animais peçonhentos dentro de casa; umas acabam se acidentando nas pontes construídas para locomoção nesse período de cheia e muitos outros problemas enfrentados pelos moradores, que em palafitas, tentam viver da forma que podem.
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Foto: Aderlan Guimarães
Edição: Aderlan Guimarães
Supervisão: Macri Elaine Colombo