Seca histórica no Amazonas
Estado enfrenta seca histórica que afeta a rotina de produção e o abastecimento de insumos básicos da população ribeirinha.
Por Bianca Cunha e Pedro Dilean*
Especial para portalfalcon.com
Publicado em 22/10/2023
O Amazonas se encontra diante de uma crise ambiental. Enquanto enfrenta a maior estiagem já registrada em comparação aos últimos anos, cerca de 500 mil moradores de regiões amazônicas estão sem acesso à água e a alimentos até o final de outubro. De 62 municípios, 59 necessitam do transporte hidroviário, para transportar insumos, alimentos, água potável, levar estudantes para as escolas.
De acordo com o boletim do Serviço Geológico do Brasil, oito estados amazônicos estão passando pela mais severa seca dos últimos 40 anos. Os efeitos da seca são visíveis em grandes rios, como o Negro, Solimões, Purus, Juruá e Madeira. Rios e igarapés estão desaparecendo por toda parte, transformando por completo a paisagem.
Dados da página oficial do Porto de Manaus indicam a cota mínima e máxima dos níveis do Rio negro, foi observado uma queda brusca nessa vazante de 2023, o nível da água do Rio Amazonas está descendo cerca de 13 a 14 centímetros diários. A última vazante que chegou próximo foi a de outubro de 2010, chegando a 13,63 ultrapassando sua cota mínima.
Estiagem afeta a população rural que depende do transporte fluvial
Eliane Rodrigues, de 42 anos, professora e moradora da comunidade Jatuarana, localizada na cidade de Manaus, comenta que a estiagem de 2023 está sendo a mais difícil comparado aos anos anteriores. Por trabalhar em uma escola que fica em uma comunidade próxima, acaba observando a dificuldade do transporte de alunos e professores, que caminham cerca de 1 km até o ponto de embarque para chegar à escola. “A estiagem desse ano está sendo bem difícil para quem mora na zona rural, os lagos secaram e as canoas não trafegam mais, o abastecimento de comidas que antes era rápido, hoje está complicado pois tem famílias que tem condições de estocar alimentos e outras não. Trabalho em uma escola próxima e devido à dificuldade de locomoção dos alunos, o prefeito suspendeu as aulas presenciais e iremos trabalhar em home office até o rio voltar a subir e normalizar a situação, só quem mora na ribeirinha, conhece a dificuldade”, comenta.
O agente de saúde Nerivaldo Norte, de 36 anos, também reside na comunidade Jatuarana, e acrescenta que a falta de alimentação e água potável é o que mais está afetando neste momento pela dificuldade de locomoção até a cidade. “Em questão de alimentação afetou também, assim como a falta de água potável. Boa parte dos moradores não tem como se locomover até a cidade para comprar alimentos. Mas essa semana já está chegando ajuda humanitária da prefeitura de Manaus, com distribuição de cestas básicas e água potável. Em questão de saúde, os moradores estão sem visitas dos profissionais de atenção básica de saúde pelo fato da embarcação também ter ficado presa dentro do lago que secou, impedindo os profissionais de atuarem na área", afirma.
Impacto da seca no meio ambiente
Não é novidade para quem mora no Amazonas e nos arredores do estado, lidar com a seca que ocorre anualmente nos períodos de setembro a outubro. Porém neste ano, a estiagem está fora dos parâmetros considerados normais, e tem um impacto socioambiental gigantesco, pois afeta tanto a população rural como os animais terrestres e aquáticos.
Segundo dados da ONG WWF Brasil, foram encontrados mortos cerca de 125 botos cor-de-rosa e tucuxis no lago Tefé, na região do médio rio Solimões, no Amazonas, onde as águas chegaram a 40 graus, (10 acima da média registrada historicamente).
Na Marina do Davi, situada na Zona Oeste da capital amazonense, formou-se um barranco com a descida das águas, e está repleto de garrafas plásticas, sacolas, pneus, entre outros resíduos sólidos.
Com os rios secando, os resíduos urbanos estão aparecendo cada vez mais e se aglomerando nas margens de orlas e igarapés, dificultando a passagem de pessoas e gerando risco de contaminação devido a proliferação de bactérias que ocorre nessas áreas contaminadas.
Soluções por meio da operação estiagem 2023
De acordo com a Secretaria de Estado de Produção Rural, o governador Wilson Lima determinou a criação de medidas para atender a população atingida, por meio da operação estiagem 2023, o decreto é válido por 180 dias e acolhe 55 municípios. Incluindo cestas básicas, flexibilização da licença para abertura de novos poços artesianos, distribuição de kits alimentares para alunos de escolas nas regiões afetadas.
Em relação à poluição e ao acúmulo de resíduos urbanos nas beiras dos rios, medidas sustentáveis já estão sendo realizadas por meio de projetos socioambientais que possuem no Amazonas, um deles é o Projeto Remada Ambiental que atua na cidade há 7 anos realizando limpezas de resíduos sólidos acumulados nos arredores do Tarumã, Marina do Davi e na Foz do Igarapé do Gigante.
Em nota, a equipe de reportagem entrou em contato com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) para saber sobre os fatores climáticos e, até o momento de fechamento desta reportagem, não houve retorno do órgão competente.
*A reportagem faz parte da atividade avaliativa da disciplina Jornalismo de Dados e Algoritmos, ministrada pela professora Vanessa Sena, durante o semestre de 2023-2.
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