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Queimadas na Amazônia: como a poluição atmosférica afeta a saúde respiratória da população de Manaus? 

Fumaça provocada pelas queimadas na floresta chegou a Manaus afetando a saúde da população. Especialista explica o que fazer para proteger a saúde respiratória e amenizar os sintomas causados pela poluição. 


Por Ruan Jucá e Ester Carvalho*

Especial para portalfalcon.com

Publicado em 22/10/2023

A estiagem e a onda de calor nos meses de agosto a outubro vêm trazendo consequências para o meio ambiente e para a saúde da população de Manaus. A poluição atmosférica provocada por incêndios na floresta Amazônica e na zona urbana da capital prejudica a saúde de pessoas mais vulneráveis. As mudanças climáticas provocadas pelo fenômeno El Niño são discussões em evidência no cotidiano. Fortes tempestades ou estiagem em várias regiões do Brasil e do mundo. 


Em Manaus, a realidade é o calor que atinge a sensação térmica de 40°C. A cidade enfrenta um sério problema relacionado à qualidade do ar em decorrência das recorrentes queimadas na região, devido à histórica estiagem. Respirar se tornou um desafio para todos. Grupos de risco, tais como crianças, idosos e portadores de doenças respiratórias são as mais afetadas. 

Dados do Institituo Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam que, no território amazonense, o mês de setembro foi o maior em número de focos de incêndios na floresta, entre queimadas naturais ou criminosas. Registrando um total de 6.991 focos de queimadas. Manaus encoberta de fumaça se tornou um evento frequente.

Dados do dia 01 de janeiro a 13 de outubro deste ano, registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. 


Biodiversidade afetada 


A supervisora de projetos da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Quesia do Rosário, alerta sobre os riscos que as queimadas causam na biodiversidade da região. "As queimadas, além de reduzirem os animais que vivem no ambiente, diminuem a área habitável e criam um novo ecossistema, que poderá não ser benéfico para todos. Dessa forma, animais podem migrar ou, caso não seja possível, chegar à extinção", explica. 


A ambientalista afirma que realizar educação ambiental e atividades de fiscalização ambiental são medidas eficazes para prevenir as queimadas na Amazônia. Comenta também sobre o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), como uma regulamentação para combater as queimadas. "Criado em 2004, o PPCDAm é um plano nacional, e todos os 9 estados que compõe a Amazônia brasileira devem executar. O PPCDAm foi o principal responsável pela queda de 83% do desmatamento até 2012, segundo dados do INPE”, destaca Quesia.

Em setembro, Manaus registrou 29 focos de queimadas na região urbana. Dados do INPE. 


No dia 11 de outubro deste ano, Manaus registrou um dos piores índices de poluição atmosférica por conta dos incêndios florestais do interior do Amazonas. A densa camada de fumaça que se formou na capital amazonense foi ocasionada por incêndios nos municípios de Iranduba, Autazes e Careiro Castanho. O Corpo de Bombeiros afirma que o fogo começou por ação humana e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) diz que o fogo é consequência da agropecuária. A fumaça chegou à capital, tornando o ar da cidade insalubre para a respiração. 


Segundo dados do Site Air Quality Index Scale and Color Legend (AQICN), que monitora a qualidade do ar em mais de 100 países, em 11 de outubro, Manaus registrou o índice 310. Para o Índice de Qualidade do Ar (IQA), qualquer número acima de 250 é considerado péssimo e inadequado para a saúde. Manaus teve registros maiores até que em Delhi, na Índia, uma das mais poluídas do mundo. Instituições públicas de ensino suspenderam suas aulas presenciais, determinando a realização de aulas remotas. 

Índice da qualidade do ar no dia 11/10/2023, por volta das 13h. Fonte: AQICN

Diagnóstico 


Olhos lacrimejando, tosse seca, garganta inflamada e dificuldade na respiração são alguns dos sintomas relatados. Dona Aldaiza Soares, de 62 anos, é moradora do Bairro São José, Zona Leste de Manaus, e diz que evita sair para a rua e mantém as janelas de casa constantemente fechadas para não ter o contato com a fumaça. A poluição do ar tem afetado diretamente a sua saúde. “Tenho muita tosse, irritação na garganta, fadiga, e estou há 3 dias sem dormir. Um desconforto que não consigo fazer minhas coisas e evito está fora de casa. Houve momentos que tive que ficar de janelas fechadas e ficar mais no meu quarto", diz a aposentada. 


Soares, há 8 anos, é portadora de pneumonia de hipersensibilidade, doença provocada por bactérias de pombos. “Tenho um acompanhamento médico de 6 em 6 meses, também faço o uso diário de uma ‘bombinha’, além do medicamento que eu uso, quando estou muito atacada da tosse e dos desconfortos, procuro o pronto socorro”, afirma a idosa que faz parte do grupo populacional vulnerável. 


O pneumologista David Luniere explica que os extremos de idade, ou seja, crianças e idosos são os mais acometidos, assim como as pessoas que já tem problemas de saúde, por exemplo asma, enfisema pulmonar e outras. “Os principais sintomas que podem ser ocasionados por uma exposição prolongada à fumaça de queimadas são: tosse com secura e irritação na garganta, dor ou desconforto torácico, falta de ar e até mesmo em alguns casos de chiado no peito; pode ainda apresentar secura no nariz com aumento dos espirros e sangramento nasal; em relação aos olhos pode ocasionar também lacrimejamento, vermelhidão e coceira”, explica o especialista. 


Recomendações 


Existem recomendações necessárias para amenizar esses sintomas, explica o médico. "Primeiramente, é importante que as pessoas que têm doença respiratória façam uso de sua medicação de forma habitual, usando-a todo dia, mesmo que não sinta nada. Em segundo lugar, procurarmos umidificar o ar onde nós estamos inseridos fazendo uso de umidificadores ou purificadores de ar, optando por fazer nebulização com soro fisiológico e até mesmo fazer lavagem nasal com soro fisiológico”, esclarece. 


Umidificadores são importantes para manter adequada a umidade do ar dentro de casa, porém na ausência deles, o pneumologista explica que o uso de bacias com água ou toalhas úmidas podem substitui-los: “Em relação ao domicílio é interessante manter as janelas de casa fechadas para que não haja entrada de fumaça. Se você não puder comprar um umidificador pode utilizar uma bacia ou um balde com água no canto do recinto ou até mesmo uma toalha úmida em cima de um cabideiro para ajudar a umidificar o ar aonde você se encontra”, orienta. 


O  médico também diz ser indispensável o uso de máscaras e recomenda que atividades físicas praticadas ao ar livre devem ser realizadas em casa e em ambientes fechados: “Para aquelas pessoas que gostam de fazer alguma atividade física ao ar livre, neste momento não é recomendado, devendo procurar fazer a atividade física em ambientes fechados como academias, pois a inalação destes poluentes pode inclusive diminuir o rendimento da atividade que está sendo realizada assim como estimular sintomas respiratórios devido à exposição prolongada a esses poluentes”, orienta Luniere. 


*A reportagem faz parte da atividade avaliativa da disciplina Jornalismo de Dados e Algoritmos, ministrada pela professora Vanessa Sena, durante o semestre de 2023-2.

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