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O assalto aos bolsos durante a pandemia

Descubra por que entramos em crise e saiba as soluções para se organizar financeiramente

Isabelle Lima - redação portalfalcon.com

Publicado em setembro de 2020

O novo coronavírus chegou de forma silenciosa, modificando a rotina da população, provocando incertezas, apresentando medos e cobrindo cada ser humano de perguntas, que por enquanto, não possuem respostas. Uma delas poderia ser: “quem mexeu no meu bolso?” parafraseando a parábola feita por Spencer Johnson, no livro “quem mexeu no meu queijo?”. Interessante, inclusive, que assim como na época em que a obra foi escrita, hoje, estamos em um momento de transição. Transição de pensamentos, de processos administrativos, consumo, investimentos, entre outras ações que sofreram ajustes devido à nova realidade. O fato é que a economia do país está abalada diante da COVID 19 e consequentemente, os bolsos dos brasileiros sofrem diretamente.  

Segundo o economista e professor, Orígenes Martins, um dos motivos pela qual o Brasil sofreu com a pandemia está ligada a prática de negociação: “pois mudou todo o esquema de aplicação de investimento que estava programado para este ano. Além disso a mudança na estrutura produtiva causando desemprego já explica esta mudança” diz, o professor. Entretanto, o mesmo completa que: “no caso brasileiro temos uma vantagem relativa, que é a produção agrícola sustentando o PIB do país, enquanto o desemprego e problemas sociais como a saúde tem a briga entre o legislativo e executivo tornando mais difícil resolver.”

O desemprego é uma das formas que alcança as famílias diretamente. Além disso, os preços dos produtos aumentam de valor expressivamente, e usando apenas um pouco de lógica, é possível entender que no fim do mês, a conta não fecha. 

O economista ainda faz uma análise sobre a perspectiva de recuperação do país, considerando que o comércio já está novamente em funcionamento, ainda que seguindo medidas de contenção: “não é tão fácil estipular um prazo, porém eu como economista acredito que até o segundo semestre de 2021 a Economia Brasileira estará em equilíbrio”, afirma Orígenes. 

No Amazonas, o cenário é complicado como nos outros estados, mas apresenta características diferentes, devido ao polo industrial. O professor diz que: “do ponto de vista social, o Amazonas tem um índice de desemprego alto. No aspecto econômico, o Pólo Industrial de Manaus PIM, surpreendeu mantendo um índice de produção bastante significativo na área de motocicletas, ar-condicionado, elétricos e refrigerantes”.

Estruturalmente falando, uma vantagem, mas que parece neutra na vida de quem não vê solução para pagar as contas no fim do mês, como é o caso da pedagoga, Keila Moldes, que faz sua renda mensal a partir de aulas particulares em domicílio. A rotina de Keila foi afetada, impedindo que a mesma desse aulas, e ainda que empreender e exercer a função por meio da internet fosse uma opção, a procura pelos serviços diminuiu, visto que as escolas também iniciaram o ensino de forma remota. Dessa maneira, muitos responsáveis não conseguiram seguir o fluxo de aulas com as crianças: “os pais também precisam trabalhar, estão sozinhos com as crianças em casa. Não encontram tempo de supervisionar e orientar os filhos em tantos períodos. Isso acaba dificultando muito. Porque entre a aula particular e a escola, eles priorizam a escola. Fora que é necessário um bom equipamento, pelo menos um computador legal e uma boa internet. Isso custa caro. Você acha que alguém quer pagar a mais nesse momento?” diz, Keila.

Em resposta ao questionamento, a experiência da própria professora com o consumo nos últimos seis meses: “tudo ficou mais caro. Agora para comprarmos alguma coisa precisa ser pelo delivery, aí tem as taxas. Se você quer alguma comida diferente, não dá para ir ao lugar. No meu caso, nem esse sistema de drive thru que estão fazendo funciona, porque eu não tenho como me locomover se não for com o transporte público. Então, na verdade, para fazer as coisas normais que eu fazia antes, hoje, eu estou gastando pelo menos uns 5 ou 7% a mais. Isso porque só faço o essencial”. 

O que muitos afirmam sobre a dificuldade de adaptação desse período é que “não estavam preparados”, o que confirma a ideia do educador financeiro, André Torbey, de que o brasileiro não tem um perfil poupador. Segundo o especialista, ter dinheiro guardado é uma segurança e garante a estabilidade das famílias, além de ajudar a projetar melhor o futuro e reagir positivamente em casos de emergência. Pensando nisso, André sugere 3 dicas que podem te ajudar a enfrentar essa onda agitada.

1) - Priorize guardar antes de gastar;
Apesar do rendimento de cada família ser diferente, normalmente, é aconselhável que se guarde de 10 a 20% do orçamento mensal. 
2) - Mantenha um controle sobre as despesas;
Controlar o que se gasta é fundamental. Ações como o parcelamento de uma compra exigem cuidado, permitem que o pagamento seja feito de uma forma menos agressiva, mas se as parcelas acumularem, pode ser difícil honrar o compromisso no devido prazo. 
3) - Planejar uma compra nova;
É preciso avaliar as necessidades. Atualmente, as lojas estão em liquidação, por exemplo, porque precisam esvaziar os estoques que ficaram parados durante a pandemia. Comprar apenas por causa do valor pode gerar um problema de consumismo, o melhor é reavaliar o que tem em casa e comprar de forma inteligente. 

Essa consciência faz parte do processo de maturação de cada pessoa, que se ensinado nas escolas, formariam mais jovens esclarecidos sobre os investimentos que podem fazer em suas próprias vidas, desde cedo. Um exemplo, é o projeto “Feira de Brinquedos”, realizado pela escola Conexus, em Manaus, com as crianças do ensino infantil. Segundo a professora Gracinda Brito, a ideia é que os alunos compreendam que o dinheiro é apenas um meio para se alcançar um sonho e não o fim. E acredita que dessa forma, eles chegarão a vida jovem e adulta sabendo consumir de forma equilibrada: “Não damos enfoque apenas ao valor monetário ,que é sem dúvida um dos meios para alcançar os objetivos mas também, a economia de forma geral por exemplo: economizar água, energia, não desperdiçar alimentos, tudo isso gera uma economia equilibrada dos seus custos. Realizamos uma feirinha de faz de conta na sala de aula. As crianças trazem brinquedos que não querem mais, colocam preço com a ajuda das professoras e no dia trazem para escola um valor de 20 reais e podem comprar outros brinquedos”.

O projeto está suspenso temporariamente, em função do vírus e as aulas serem remotas, entretanto, existem resultados vistos pelos responsáveis, como é o caso da Rhayssa Souza, consultora comercial e mãe do pequeno Benício Souza, de três anos de idade. A mamãe garante que esse tipo de educação é fundamental, para que as crianças cresçam com condições de se organizarem bem financeiramente. E diz que Benício aprende de forma lúdica e dá resultados: “ele ainda é pequeno, mas já consigo ver algumas coisas, ele fala em economizar”. 

E o pequeno, confirma. Quando questionado sobre o que fará com o dinheiro que poupa em seu cofrinho, responde com segurança: “vou comprar uma baleia azul”. Apesar de arrancar alguns sorrisos de quem ouve, Benício tem aprendido que o dinheiro é apenas um dos meios, que junto a organização, planejamento e alguns outros pontos, podem levar a realização dos sonhos. 

Edição: Marcella Ladislau
Atualização: Maickson Serrão
Supervisão: Professora Vanessa Sena


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