Que a desigualdade de gênero existe no mercado, independente dele ser de comunicação ou não, isso é evidente - e sim, ainda estamos falando disso em pleno 2020, século 21 e no ápice da contínua evolução humana (de alguns). Segundo levantamento feito pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), só no ano de 2095, a igualdade de gênero no trabalho será mundialmente atingida, mas isso não é a única dificuldade que elas enfrentam diariamente em suas rotinas de trabalho.
Comentários maldosos, negativos, depreciativos e abusivos fazem parte de uma rotina de trabalho que não seria aceita por qualquer um, mas por ser mulher, muitas aceitam, é o que nos conta a publicitária Joanna Garcia (nome fictício), 33, que trabalha na área publicidade há 6 anos, em Manaus-AM. “Logo quando comecei na área, recebia comentários maldosos sobre minhas roupas e meu estilo que faziam com que eu me sentisse mal e esses comentários ainda eram feitos por uma mulher. A pessoa dizia que eu não me vestia como menina, querendo dizer até mesmo que se caso eu fosse lésbica seria algo depreciativo, mesmo eu sendo uma mulher bissexual que apenas não gostava de usar roupas justas ao meu corpo ou que me mostrassem demais na época. A então minha superior naquela época me apresentava de forma inferior à um estagiário do mesmo local, mesmo que estivéssemos no mesmo páreo e dizia que ‘mesmo sendo uma mulher, eu estava aprendendo’”, relata Garcia.
E não para por aí, no decorrer dos anos em que a profissional sobe no mercado, é como se os níveis de machismo e preconceito dentro dos locais de trabalho aumentassem, é o que conta a jornalista Fabiana Lemos (nome fictício), 27, “Acredito que muitas empresas atualmente, principalmente de comunicação, estão trabalhando para melhorar seus ambientes de trabalho e quebrar paradigmas machistas, mas são poucas as que fiscalizam seus gestores quanto a isso. Eu mesma já sofri assédio dentro de uma agência de grande porte em Manaus quando trabalhava na área e fui impedida de denunciar pelos próprios colegas de equipe, por medo do que poderia acontecer com todos ali. Eu passei por uma situação constrangedora, onde um Diretor de Criação todas as vezes criava situações para me alisar de forma indevida e eu não sabia como reagir. Um dia, ele me disse para pegar carona com ele e eu não soube como negar, mas pedi para uma amiga ir junto para que eu não fosse coagida a nada. Ele fez questão de deixar primeiro a amiga e tentar me chamar pra beber somente com ele, eu não aceitei e na semana seguinte ele me demitiu alegando que o meu perfil não combinava com o perfil da agência”, disse a jovem.
A estudante Victória Dias, do curso de comunicação da Faculdade Martha Falcão, mesmo entrando recentemente no mercado de trabalho, conta que já sofreu assédio dentro da empresa onde é assistente. "Na minha atual equipe, as mulheres são minoria e diariamente eu preciso falar mais alto para ser ouvida e respeitada. Muitas vezes me sinto constrangida com as brincadeiras que preciso ouvir dos meus colegas de trabalho todos os dias. Um exemplo de caso onde o machismo é muito grande é o de uma colega de trabalho, que já me mostrou várias vezes mensagens onde outros funcionários que ocupam cargo alto na agência, mandam mensagens com insinuações sexuais para ela pelo celular enquanto ao mesmo tempo passam por ela pessoalmente como se não tivesse acontecido nada”, conta a aluna, indignada.
Ela também diz que as colegas de equipe passam por constrangimentos diariamente no ambiente de trabalho, ouvindo piadas e brincadeiras machistas, sendo assediadas, precisando disputar com outros colegas homens para serem ouvidas e respeitadas como pessoa e como profissional. “Além de ouvir absurdos e muitas vezes sermos tratadas como incapazes de realizar nosso trabalho, o que no meu caso só piora pois tenho sofrido com essa desvalorização não só por ser mulher, mas por também ser jovem”, disse a estudante que ainda citou que essa postura machista não vem de todos os colegas homens e que também mulheres podem ter atitudes machistas sem perceber no local.
“Uma atitude importante é não desistir”, cita Fabiana, “quando você passa por algo assim, se sente um lixo. É como se não fosse uma pessoa, apenas um objeto pronto para uso e fica aterrorizada com o que de pior pode surgir. Eu me apeguei a meus amigos e decidi estudar cada vez mais para demonstrar que minha voz não iria se calar. Jamais se calem! Protejam umas às outras!”, finalizou a jornalista que mesmo não denunciando, recomenda que as profissionais que passarem por essas situações consigam ter forças para ir contra os seus assediadores. .
Como denunciar
Muitas mulheres tem medo de tomar alguma atitude quanto à empresa, por serem colocadas de lado na área onde atuam. A delegada Débora Mafra comenta que o assédio atinge mulheres de todas as idades, classes sociais, raças e orientações sexuais. Propostas e imposições inapropriadas e constrangedoras de cunho sexual, praticadas por superiores no ambiente de trabalho, caracterizam-se como assédio sexual, incluído no Código Penal em 2001.
No ano passado, de janeiro a novembro,
45 denúncias desse tipo de crime foram registradas pela Delegacia da Mulher. Todos os casos as vítimas eram mulheres. A delegada alerta que no momento da denúncia, a vítima deve levar provas documentais do assédio como: gravações, fotos ou testemunhas para embasar o pedido de indenização ´por danos morais e materiais contra a empresa. Nas denúncias, segundo Mafra, as vítimas devem levar provas documentais do assédio, como gravações, fotos ou testemunhas para embasar pedido de indenização por danos morais e materiais contra a empresa.
Edição: Marcella Ladislau
Atualização: Maickson Serrão
Supervisão: Professora Vanessa Sena