Compras online disparam durante quarentena

Com a pandemia do novo coronavírus, e-commerce cresce 81% em abril e fatura R$ 9,4 bilhões.
Raifran Monteiro - redação portalfalcon.com
Publicado em 1º de junho de 2020
Foto: Reprodução/Stock
A economia no Brasil e no mundo vem sendo afetada pela pandemia causada pela Covid-19 e obrigou governantes a fecharem comércios e deixou uma boa parcela da população brasileira em casa, fazendo com que muitas pessoas optassem por adquirir produtos via internet. 

O isolamento social trouxe impactos significativos para o varejo e, para não perder lucro, muitas companhias aceleraram a transformação digital para passarem a vender pela internet. De acordo com o relatório do Compre&Confie, desenvolvido em parceria com o E-commerce Brasil, o mercado faturou R$ 9,4 bilhões em abril, aumento de 81% em relação ao mesmo período do ano passado.

A alta reflete principalmente o aumento no número de pedidos realizados durante o mês. Ao todo, foram 24,5 milhões de compras online, aumento de 98% em relação a abril de 2019. "No comparativo diário das vendas dentro do período, foram registrados picos acima de 100% — um marco para história do e-commerce após mais de 20 anos no país", afirma o coordenador do camara-e.net e diretor-executivo do Compre & Confie para a entrevista do E-commerce, André Dias.

As compras online feitas com cartão de crédito apresentaram aumento de 23,2% no primeiro trimestre, representando 29% do volume transacionado com cartões, cerca de R$ 87 bilhões. Já as compras gerais com cartão aumentaram 14,1% no primeiro trimestre de 2020, com um volume transacionado de R$ 475,7 bilhões, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

Já um levantamento feito pela Boa Vista aponta que 29% dos consumidores consultados pela pesquisa passaram a fazer mais compras online após o vírus ter se alastrado no Brasil. O estudo possui grau de confiança de 95% e margem de erro de quatro pontos percentuais. Dos entrevistados 71% afirmaram usar cartão de crédito como meio de pagamento utilizado nas compras digitais, índice muito superior às outras opções apontadas pelos consumidores, como débito em conta (13%), boleto (12%) e transferência bancária (4%).

A dona de casa Isabella Monteiro é uma dessas consumidoras e ela conta que não era acostumada a fazer compras online antes da quarentena e cita o lado positivo e negativo de fazer compras pela internet. “Antes da quarentena eu não era acostumada a fazer compras pela internet porque gosto de ir até a loja física para olhar os detalhes dos produtos. Um dos pontos positivos dessas compras é que durante esse período não precisei sair de casa e ainda tem a flexibilidade de realizar os pagamentos tanto com cartão de crédito quanto com dinheiro. Já um lado negativo é que tem pouca variedade de produtos e demora na hora da entrega”, diz Monteiro.

O universitário Caio Nery relata como está sendo a experiência em fazer compras online durante esse período de isolamento social “Já era acostumado em fazer compras online bem antes da quarentena, mas confesso que realizar compras presencialmente é bem melhor porque tenho o produto mais rápido. Já em compras pela internet demora muito para chegar e ainda tem o valor do frete, e a maioria das vezes ele sai mais caro que o próprio produto, mas tem a opção de fazer pagamento por boleto”, conta Nery.

Mão fechada

Mesmo que o brasileiro esteja comprando mais, ele está gastando significativamente menos em suas compras online, em torno de R$ 409,50, montante 4,5% menor do que o registrado em 2019. Para o diretor executivo do Compre&Confie, André Dias, a diminuição já tem relação com a chegada do novo coronavírus. "A covid-19 já provoca mudanças estruturais no hábito dos consumidores de varejo digital. Com as medidas de isolamento implantadas no fim do mês de março, cada vez mais pessoas optam por adquirir pela internet itens de necessidade básica, como produtos de supermercado ou de farmácia. Enquanto isso, itens de maior valor agregado, como eletrônicos, ficam em segundo plano. Essa conjuntura ajuda a explicar a queda do tíquete médio no período", explica Dias para a entrevista do E-commerce Brasil.

E-commerce só minimiza impacto da crise no varejo

Setor varejista de diversos segmentos apresentam queda no faturamento mesmo tendo investido nos serviços online, viram o fluxo de clientes cair. No primeiro trimestre, a maior parte das empresas do setor teve queda no lucro líquido, apesar de um aumento no volume total de vendas.

Dentre as maiores quedas no lucro estão Riachuelo e Lojas Renner, que têm maior dependência das lojas físicas nas vendas, sendo mais afetadas com o fechamento comércio. A Riachuelo teve prejuízo de R$ 47,5 milhões nos três primeiros meses do ano, ante lucro de R$ 29,3 milhões na comparação trimestral. A Renner viu o lucro cair 94% para R$ 10 milhões.

A Magazine Luiza, uma das líderes no e-commerce brasileiro, teve prejuízo de R$ 8 milhões, apesar do salto de 73% das vendas online no período, que passou a representar, pela primeira vez, a maior parte do total de vendas. Segundo a empresa, os custos em manter as lojas físicas seguem elevados, apesar de renegociação de aluguéis.
Outros fatores para a queda no lucro são o fortalecimento do caixa das companhias para enfrentar a crise econômica decorrente da pandemia de Covid-19 e o investimento para aprimorar a logística de entregas. Nesse cenário, empresas voltadas apenas ao comércio online têm vantagem, como são os casos de Mercado Livre, Amazon e B2W – que opera Submarino, Shoptime, Americanas.com.

Apesar dos números negativos, as varejistas apresentam forte valorização na Bolsa de Valores. Ao contrário da maior parte do mercado de ações, elas ostentam valores recorde em plena pandemia, como Amazon, Magazine Luiza, B2W e Mercado Livre.