O número de jovens que permanece na casa dos pais aumentou nos últimos anos.
Raifran Monteiro – redação portalfalcon.com
Publicado em 14 de outubro de 2020
De acordo com a psicóloga da Faculdade Martha Falcão (FMF), Nicolly Beatriz, a opção de permanecer na casa dos pais está relacionada ao prolongamento dos estudos e o medo por conta do encarecimento do custo de vida atual. “Os jovens têm escolhido permanecer morando ou voltando para a casa dos pais por conta dos estudos e o medo que eles encontram no caminho de não saber se vão conseguir se manter financeiramente por conta do custo de vida, também podemos relacionar essa decisão aos jovens que têm pais super protetores e não “deixam” seus filhos caminharem com os seus próprios pés”, explicou a psicóloga.
Esse é o caso da estudante de design Flaviana Silva, 29 anos, ela conta que para investir na sua vida acadêmica, na sua carreira teve que atrasar os planos de sair da casa dos pais. “Ainda não saí da casa dos meus pais pelo fato de ainda estar fazendo faculdade, estou na fase de estágio e fazendo o que gosto, e ainda não me sinto preparada financeiramente para sair de casa. Também posso ligar ao fato dos meus pais serem muito apegados aos filhos e pela criação que tivemos. Fui ensinada e incentivada a estudar, investir nos estudos primeiro e se estabilizar financeiramente antes de pensar em sair de casa, mas penso sim futuramente ter o meu cantinho e as minhas coisas”, conta a estudante.
O estudo aponta que os jovens que moram com os pais tendem a ser mais escolarizados do que aqueles com a mesma faixa etária que moram sozinhos. Em 2015, 35,1% dos jovens que moravam com os pais tinham, ao menos, ensino superior incompleto ou nível mais elevado; a média de anos de estudo do grupo foi de 10,7 anos e 13,2% estudavam. Já os que viviam sem a família, em média, tinham 9,8 anos de estudos, 20,7% cursaram ensino superior incompleto ou nível mais elevado e apenas 7,2% ainda estudavam.
Para a maioria desses jovens, não precisam estar desempregados para voltar a casa dos pais. Foi de “surpresa”, sem planejamento, que o técnico em administração Luiz Henrique, 31 anos, encaixotou as suas coisas e voltou para a casa de seus pais por conta da pandemia. “Foi justamente por conta da emergência de saúde que tive que voltar para o meu lar materno. Adoeci e estava trabalhando em home office e as coisas começaram a apertar e eu me senti muito sozinho, quase entrando em uma depressão e então resolvi voltar para a casa da minha mãe. Não é o ambiente a que eu, já adulto, estava acostumado. Eu demorei muito até encontrar o meu lugar dentro de casa. Então no início foi bem difícil”, contou.
E quem não reclama nada dessa novidade é a Maria do Socorro,55 anos, mãe de Luiz. “Apesar das circunstâncias que o trouxe de volta, fico muito feliz em ver a casa cheia de novo e ter meu filho por perto”, contou.
Quando a decisão de voltar para a casa dos pais, ainda que obrigados por conta do contexto adverso como aponta Maria, a tendência dessa decisão gera menos conflitos. É o que Nicolly observa. “Agora, os jovens buscam realizações em outras áreas e não na formação das famílias logo cedo, há pessoas que estão vendo esse momento como oportunidade que talvez não viesse a se repetir. Pessoas que estão criando uma relação mais íntima com os pais, que os está observando com um olhar mais amadurecido, o que pode ser incrível”, finaliza.
Edição: Marcella Ladislau
Atualização: Maickson Serrão
Supervisão: Professora Vanessa Sena
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