Vivemos em um mundo hiperconectado, muito imediatista, com um volume de informações cada vez maior parece justificar esse boom de ansiedade na população. Culpamos a tecnologia pela sensação de falta de tempo e estresse, mesmo sem podermos negar a facilidade e o conforto que os novos recursos nos oferecem.
Mais de 100 milhões de brasileiros conectados ao WhatsApp não conseguem passar um dia sem acessar o aplicativo. Mas o uso excessivo, segundo Nicolly Beatriz, com atuação clínica voltada para atendimento na abordagem de terapia cognitivo-comportamental com adolescentes e adultos. Além de exercer o ofício de psicóloga de suporte ao aluno na Faculdade Martha Falcão, explica que o uso excessivo dessa plataforma aumenta o risco de ansiedade e até de depressão.
“Dependência de ficar com o celular o tempo inteiro chegou a um nível em que pessoas se atrasam para compromissos por estar mandando mensagens ou ficar esperando e vendo se as mensagens foram respondidas. Infelizmente esse uso excessivo pode gerar algum tipo de fobia, como a nomofobia, que é o medo de ficar sem celular”, diz.
Alan Silva, de 28 anos, foi diagnosticado com depressão e ansiedade após seu celular cair na privada, ele reconheceu ter um vício: o WhatsApp. O estudante decidiu procurar ajuda ao perceber que acordava no meio da noite procurando o aparelho. Foram dias difíceis para ele, que estima passar até oito horas diárias checando seus 15 grupos. “ Pra mim acordar no meio da noite para ver se tem mensagem é muito comum. O uso excessivo do aparelho sempre me atrapalha na hora de estudar e de dormir”.
Desde meados dos anos 60 vivemos, no período chamado de era da informação, pós era industrial, caracterizada como a evolução tecnológica. E, para quem nasceu antes da internet, smartphones e computadores, é um avanço tecnológico muito grande e os impactos econômicos, sociais, psicológicos e políticos são claros e visíveis sobre esses novos tempos.
De acordo com a psicóloga, os estímulos constantes também podem gerar baixa capacidade de concentração. Nos mais novos, este elemento pode levar ao baixo rendimento escolar e até afetar o sono. “Quando não se consegue a aceitação,automaticamente impacta a autoestima das pessoas, principalmente em adolescentes. Nos grupos desse aplicativo, fica claro o sentimento de rejeição, causa um efeito maior na autoestima e pode levar à depressão, muito comum em jovens quando as mensagens não são respondidas na hora ou quando não se tem na mesma velocidade uma resposta”, explica.
O WhatsApp é uma ótima ferramenta de comunicação rápida entre as pessoas, mas não pode substituir conexões mais profundas e pode até causar a demissão se não utilizado de maneira correta.
Segundo Beatriz Goes, professora de comunicação da Faculdade Martha Falcão (FMF), mestre em Ciências da Comunicação, explica que o homem sempre teve necessidade de se comunicar. É graças à comunicação que o homem nos primórdios pode começar a viver em comunidade.
“Percebemos enquanto espécie que se vivêssemos em grupo éramos mais fortes e a chance de sobrevivência e reprodução aumentavam assegurando a perpetuação genética. Nesse sentido, é interessante repararmos também que a necessidade do homem se comunicar só foi aumentando com o passar dos anos, uma vez que cada vez mais eram criadas tecnologias que possibilitavam a comunicação de maneiras mais complexas. Com a internet isso aumentou exponencialmente levando a uma geração - que desde de que acorda até o momento que vai dormir - está conectada, são os prosumers, ou seja, aquelas pessoas que hoje são ao mesmo tempo produtoras e receptoras do conteúdo disponível na rede”, finaliza a professora.
No Brasil há um crescimento elevado, com 78,3 milhões de pessoas nas redes sociais, ou seja, 79% de sua base de usuários da Internet. O brasileiro, em média, fica 5:26 horas por dia conectado à internet; gasta 3:47 horas com acesso móvel; gasta também 3:47 horas com acesso a redes sociais (via mobile ou fixo); e consome 2:49 horas na TV.
Simone Souza, estudante de engenharia elétrica, 25 anos, conta que não sente tanta necessidade de ficar conectada o tempo todo. “Não tenho motivos para ficar conectada 24h por dia, busquei colocar horários para ficar nas redes sociais e isso é bom porque não fica na ansiedade pra saber se tal pessoa está on-line ou se ela respondeu a minha mensagem”, conta a jovem.
Edição: Marcella Ladislau
Atualização: Maickson Serrão
Supervisão: Professora Vanessa Sena